01/09/07

""Soho" portuense ganha raízes", in JN

Augusto Correia

O Centro Comercial Bombarda (CCB) vai de férias. A partir de ontem, e até ao fim do mês, as lojas encerram. Inaugurado em Maio, devolveu à vida o rés- -do-chão, fechado há quase dez anos, de um condomínio de luxo. No chamado "Soho" do Porto, em referência à zona londrina das galerias de arte, o denominador comum do espaço é a obra de autor, a inovação e a criatividade.

"Ningúem tenha grandes ilusões não se sobrevive muito tempo nesse estado de graça e reinventar a postura alternativa exige um cada vez maior golpe de asa", lê-se na montra onde se afixa a frase do mês. Assinada por "In the attack", a mensagem convida "quem se achar à altura ou encontrar em si a bravura" a avançar. Marina Costa avançou. "Foi um projecto-relâmpago, em cinco meses", conta a promotora.

Designer gráfica, alugou as 20 lojas, que agora subaluga, sob matriz alternativa. "Para abrir uma loja aqui, é preciso ter um projecto fora do comum, inovador", explica Marina Costa. Da manicura ao café, usuais em qualquer centro comercial, ao hospital de bonsais, as lojas estão cheias de ideias de autor.

Arriscar e investir

"No Porto, ainda há muita gente disposta a arriscar o próprio dinheiro, a investir", argumenta. "Em Lisboa, qualquer coisa com cariz cultural tem logo apoio da câmara. Aqui, nem vale a pena tentar", desabafa Marina Costa. Arrependida? "Ainda não. É cedo para fazer balanços. Está tudo parado no Porto, para férias, e não temos turistas", diz.

"Abrimos em época de exames, o que não é a melhor altura, tendo em conta o nosso público-alvo, e depois vieram as férias", comenta Inês de Castro, da loja "Wonder", de marca lisboeta com expansão para o Porto. "Começámos devagar, mas a abertura do café ajudou a criar alguma dinâmica e a trazer pessoas às lojas".

Teoria comprovada na hora. "Comecei a vir ao café e aproveitei para conhecer as lojas", diz Filipe Silva, rendido à esplanada, um claustro de comeres e beberes. "Acho que este tipo de lojas se enquadra na envolvente exterior, das galerias", acrescenta. Falava já de dentro do balcão, ao computador da loja, para aceder ao correio electrónico, de onde iria descarregar a foto que pretendia transformar em tela. Coisas de um comércio nada tradicional.

"Embora se trate de um conceito específico, é para um público abrangente", diz João Mascarenhas, que materializou a etérea "Vertigo-store.com" em "Vertigo Store", no CCB. "Já tinha pensado em abrir uma loja, para não ser só na Net, mas faltava encontrar o espaço certo. Aqui, foi amor à primeira vista", diz.

A "Vertigo", dedicada à memoráblia cinéfila, entre posters, figuras de filmes, canecas e almofadas, ainda não teria visto a luz do dia se não fosse o projecto de Marina Costa. "Isto só pegava se fosse uma coisa alternativa", diz João Mascarenhas.

"Fica barato investir aqui", argumenta a empreendedora. Os preços variam entre os 200 e os dois mil euros. O preço médio anda nos 500 euros. "Em Miguel Bombarda, por 40 m2, muito bom", argumenta Marina Costa, que negoceia novas lojas. "Queria uma boa galeria de arte, que estivesse disposta a pagar dois mil euros,pela loja da frente". A maior, a mais cara, a montra, o rosto do centro, está vazia. Em cru, como tudo estava no início do ano, quando Marina Costa se lançou no projecto.

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